sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fim de ano mais uma vez
o verão vem chegando, a chuva não dá trégua.
Pra compensar os tempos na mesmice blogateira:
tem poema pra meu bem e entrevista com Olavo de Castro, o jovem ator-promessa dos palcos de Minas.
Falando em palcos de Minas, saudade desse povo que faz arte sem ver, filosofa quando acorda, fuma cigarro de palha e arrasa no palco.
Olavo, Danilo, Patricia, Wagner Assunção, Rita, Dani Christoffer, Bayron, Zeca Santos, Laura e Fernando Couto.

beijooooooos da Jo : )

No mundo do meu bem

Os sorrisos das bocas entreabertas calou vós.
O espelho que as bocas vêem reflete a superfície do lago,
onde estão bem poderias não estar.
Nada é revelado à superfície, seria fácil para os tolos,
E vês quantos são?

Na beira do lago eu perdi a poesia.
Na beira se perde as coisas e a sí mesmo.
A poesia não se perde, vai! – diz ela -,
poesia não bóia, afunda.
vai abaixo dos espelhos que narciso só os vê, e só.

Lá longe, depois da chuva fria que cai
Sempre há. Suspeitas, eu sei.
Supeitas da música do teu pai, e do teu fim
Agora você é só vodka com gelo e suco.
Você é só, constrangido.

Havia uma porta,
Onde só meias verdades podem passar,
diz outro poeta. Desista da certeza.
Não há nada decerto certo nesta bola,
que gira e cozinha lentamente sob o sol.

Mas não é bem verdade, é bem processo,
bem caminho.
É meu benzinho perambulando.
ele come, veste, desembainha a pexêra,
Ele lida assim com o mundo, foi assim que lidaram com meu bem.

GV4: Olavo de Castro, ator


São duas horas da tarde, véspera de um feriado com muito calor. Na cantina do Lucas, reduto da boemia artística de Belo Horizonte, Olavo de Castro, a promessa do teatro mineiro para os palcos do Brasil, aguarda gentilmente tomando um suco de laranja pela entrevista. Falamos sobre formação, fama, cinema e projetos. Vencedor do prêmio USIMINAS/SINPARC de melhor ator, o mais jovem a receber o prêmio. Olavo, apesar de enquadrar-se fácil aos estereótipos de sucesso, diz que foge deles. Se concentra na preparação para que o vôo seja longo e seguro. Mas não descarta a possibilidade e mantém em sigilo seus convites. Ttoca o terceiro sinal.


Maria Joana:
Como foi o início da sua careira? Quando você percebeu que atuar seria sua escolha de vida?
Olavo de Castro: Foi em 1996. Eu resolvi ir pro RJ tentar teatro, eu tinha 19 anos, 20 anos quando fui. Trabalhei em loja de motos e fui fazer teatro na Casa de Artes Laranjeiras, a CAL. Foi ali que eu realmente comecei a trabalhar teatro na minha vida.
Maria Joana:
No rio você entrou em cartaz profissionalmente?
Olavo de Castro: No rio eu fiz uma montagem de “Beijo no asfalto”, de Nelson Rodrigues, mas foi aberto pouco tempo ao público. Eu trouxe minha bagagem toda de trabalho para Belo Horizonte, aqui eu comecei realmente.
Maria Joana:
Quem te recebeu em BH, alguém te olhou e apostou em você?
Olavo de Castro: Um professor meu da CAL tinha contato com um diretor aqui de BH, e eu já estava há cinco anos no rio quase, eu tava com muita saudade da minha casa, precisava voltar de qualquer forma para Belo Horizonte. Então e tive um convite, na CAL ainda, deste diretor que é o Fernando Couto, que iria montar “Santidade”, mas que nenhum ator em BH topou fazer, porque a peça é uma peça muito forte, uma peça pra quem é ator, não pra quem está ator.
Maria Joana:
A peça é forte em que sentido?
Olavo de Castro: Pela temática, é sacro- profana a peça, fala de sexo e religião, uma coisa maravilhosa. A peça é do Zé Vicente, mineiro estabelecido em SP, morreu agora, no mês passado. Topei fazer o Arthur, um ex- seminarista que se tornava garoto de programa. Foi um desfio tremendo na minha vida.
Maria Joana:
Como a classe artística mineira e o público receberam essa peça, com ator novo em espetáculo polêmico?
Olavo de Castro: Não adianta, assim... acho que em toda profissão que você dá sua cara a tapa você é sempre questionado, não interessa se você tem talento ou não. A primeira ação das pessoas é te questionar, - quem é esse? será que é bom?- É natural principalmente na classe teatral. Me questionaram muito porque tinha nu em cena, mas não era um nu descompromissado, precisava ter essa cena de nu. Acho que se a minha consciência está aberta e tranqüila, não interessa.
Maria Joana:
Fale sobre “Novas diretrizes em tempos de paz”, seu trabalho mais elogiado pela crítica, como foi o convite?
Olavo de Castro: Foi um reencontro meu com o Fernando Couto e com o Ari Nóbrega. Eu chamei o Fernando pra que agente voltasse a trabalhar juntos, já tinha feito com ele e Márcio Machado “A escada”, ele topou a fomos atrás de um bom texto. O texto de diretrizes já tava na cabeça deles. Peguei o texto, lí e fiquei fascinado, eu já conhecia a obra do Bosco Brasil. Resolvemos montar. Eu inseri o sotaque polonês na peça, e precisei de ajuda de poloneses.
Maria Joana:
E como foi esse processo?
Olavo de Castro: Tem uma história engraçada. Eu estava no Café com Letras sozinho, e a garçonete me pediu pra algumas pessoas sentarem na minha mesa, porque tava muito cheio e eu disse que não tinha problema, e eram dois poloneses. Hoje eles estão em Varsóvia e agente se fala de vez em quando. O consulado me ajudou bastante também. Porque apesar de ser teatro, tem que ser real.
Maria Joana:
A própria linha de trabalho do Fernando Couto é bem realista, não é? Você se identifica com isso?
Olavo de Castro: Eu acho que o teatro tem que levar as pessoas a pensar. Quando você vai ao teatro você tem a intenção de se divertir, mas você tem que sair do teatro com uma certa mudança, acho que uma peça de teatro tem que te acrescentar alguma coisa. Teatro é pra incomodar as consciências. Eu não tenho nada contra, qualquer expressão teatral eu respeito, mas o teatro que te leva a pensar é o meu teatro.
Maria Joana:
Você já teve proposta para fazer TV? Como é a sua relação com televisão?
Olavo de Castro: Ainda no Rio eu sabia que não era hora de tentar TV, eu não tava maduro. Você sabe que agente tem que ter esse discernimento né? Saber quando é o momento certo de se fazer alguma coisa. O ator que tem essa consciência de que tá na hora ou não tá, se ele é inteligente se dá bem. Eu acabei de fazer 30 anos e eu acho que agora é que eu to preparado para fazer TV.
Maria Joana:
A TV tem o filtro do estereótipo, e querendo ou não você acaba se submetendo ou sendo submetido a isto.. Você é um homem bonito, como se relaciona com isso?
Olavo de Castro: Eu acho que quando você faz um trabalho bem feito e faz de coração, independente se seu olho é azul preto ou amarelo, a platéia sente que você ta fazendo de verdade. A minha proposta quando eu estou fazendo teatro é me doar, me doar cem por cento. Eu acho que independente de eu ser um tipo físico ideal para a televisão ou não, se eu não tiver talento não adianta, porque fazer TV é fácil, mas fazer a segunda vez... O primeiro convite vai acontecer, o segundo é a prova que você deu certo. Beleza ajuda, mas não põe mesa.
Maria Joana:
Hoje, depois de todo o processo que você já passou, se o convite acontecer já se sente seguro?
Olavo de Castro: Hoje já. Em sete anos de profissão eu já conquistei o prêmio de melhor ator do ano (prêmio USIMINAS/SINPARC), reconhecimento em Artes Cênicas (Prêmio SESC/SATED de artes cênicas), recentemente agente conquistou outro prêmio no Festival de Vitória. Eu trabalho a minha carreira toda pautada com cuidado, eu sei aonde eu vou, com quem eu vou trabalhar, com calma.
Maria Joana:
A sua segurança tem alguma relação com o fato de Belo Horizonte ser considerada um lugar onde as pessoas tem um senso crítico muito apurado? Saber que é reconhecido em Minas te conforta?
Olavo de Castro: Ajuda sim, as grandes companhias de teatro nos anos oitenta estreavam aqui. Então a partir do momento que Minas Gerais tem esse respeito, eu sendo mineiro e trabalhando aqui, isso me dá segurança sim.
Maria Joana:
Você tem uma visão crítica sobre essa febre da fama que a TV gera?
Olavo de Castro: Eu não tenho preconceito contra quem tá começando, eu acho que todo mundo tem que correr atrás de seu sonho. Mas tem duas coisas muito importantes, uma é ser e a outra é estar, tem gente que é ator e tem gente que está ator, inclusive na nossa classe teatral tem vários, que hoje estão no teatro mas que amanhã podem voltar a trabalhar num banco. A televisão faz com que as pessoas queiram virar celebridade, né? Isso é complicado. Eu sou muito da prática mas a teoria é importantíssima. Agora preconceito eu não tenho.
Maria Joana:
Você gravou seu primeiro longa, como foi fazer cinema?
Olavo de Castro: Eu já fiz muito curta-metragem, bastante, aqui e no Rio fiz alguns. Mas na verdade esse filme foi especial. Cinema é uma vontade que eu tenho mais que televisão. É um filme espírita e se chama “A granja do silêncio”, faço um médico. Deve ser lançado em janeiro.
Maria Joana:
Em janeiro tem a Campanha de Popularização, você participa?
Olavo de Castro: Sim, já começo trabalhando no dia quatro de janeiro. Durante o mês de janeiro inteiro eu vou estar em cena, sem tirar um dia. Vou estar de quinta à domingo em cartaz no Palácio das Artes de segunda à quarta em São Paulo no centro cultural São Paulo, com “Novas diretrizes em tempos de paz”, a convite do autor Bosco Brasil.
Maria Joana:
Você ganhou o prêmio vencedor do projeto Cenas Curtas do grupo Galpão com “a raiz do grito”, como foi?
Olavo de Castro: Foi muito legal, eu recebi o convite do diretor Wilson Oliveira que foi fantástico, pra fazer a cena com outra atriz que se chama Ana Haddad. Agente viajou bastante com essa cena, que agora vamos transformar em um curta- metragem. É um texto da Alcione Araújo, sobre um preso político que quatro anos depois, sai da prisão e vai ao reencontro de sua família.
Maria Joana:
E a sua família, o que acha da sua profissão?
Olavo de Castro: Eu tenho uma mãe filha de ator, meu avô era radialista e criou oito filhos. Tive total apoio. Sempre me apoiaram, a vida de ator não e fácil, essa vida de glamour é depois. Antes é muita luta, é carregar cenário nas costas.

Homenagem a este grande ator e seus mestres, saudosa.